Em live com diretora-geral do Senado, promotora de justiça afirma que racismo é uma pandemia no Brasil

Drª Lívia Sant’Anna Vaz é promotora de Justiça do Ministério Público da Bahia e participou de debate com Ilana Trombka sobre o antirracismo como ferramenta de promoção da igualdade racial

A articulação de práticas antirracistas foi o tema do debate realizado pela diretora-geral do Senado Federal, Ilana Trombka, na última segunda-feira (27). Ilana e a promotora de Justiça do Ministério Público do Estado da Bahia Drª Lívia Sant’Anna Vaz discutiram os impactos sanitário, econômico e social do novo coronavírus na população negra brasileira e também a amplificação do debate racial no contexto da pandemia, motivado principalmente pelas recentes manifestações em razão do assassinato de George Floyd, nos Estados Unidos.

Lívia Sant’Anna parafraseou a filósofa e ativista estadunidense Angela Davis e afirmou que “numa sociedade racista, não basta não ser racista e é preciso ser antirracista”. Durante a live, a promotora foi enfática ao afirmar que o “o racismo é uma pandemia no Brasil”, já que a prática discriminatória é responsável por expor uma parcela considerável da população (55,8% dos brasileiros se declararam pardos e pretos no Censo 2018) a vulnerabilidades históricas, perpetuadas por uma estrutura social violenta, e que se refletem em dados que apontam que, mulheres negras são mais suscetíveis a sofrerem feminicídio e que no país um jovem negro é assassinado a cada 23 minutos. “Não é coincidência que a letalidade do novo coronavírus é mais intensa contra a população negra, nos Estados Unidos, e aqui. Nós estamos falando de racismo e das várias vertentes que esse racismo alcança para se estruturar”, avaliou.

Ainda que o Brasil tenha feito avanços na Legislação, com medidas para combater o racismo, como a Lei 10.639/03, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de história da África e das culturas africana e afro-brasileira no currículo da educação básica, o país tem um longo percurso para sanar disparidades históricas provocadas pela escravização de pessoas negras. Para Lívia, esse processo de desconstrução depende do reconhecimento de privilégios. “Muitas vezes a gente acha que está sendo antirracista, mas está reproduzindo também algumas violências raciais. (O racismo) é um problema da democracia brasileira. E falar em democracia no Brasil, 132 anos após a Lei Áurea, onde nós ainda temos o fator raça como um fator que determina todas as relações e todas as desigualdades no nosso país, a gente está falando de um processo de abolição que ainda não acabou. De uma pseudo-abolição que precisa continuar para que a gente realmente tenha todas as pessoas no Brasil emancipadas, independente de raça ou de cor e a gente ainda não tem isso”.

Assista ao debate pelo vídeo abaixo:

 

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Racismo em Pauta

O Senado lançou no dia 20 de julho a campanha “Racismo em Pauta”, uma iniciativa do Comitê Permanente pela Promoção da Igualdade de Gênero e Raça e da Secretaria de Comunicação Social (Secom). O objetivo é combater o racismo estrutural, promovendo debates, manifestações e campanhas institucionais contra práticas racistas que foram naturalizadas pela sociedade brasileira. A campanha segue até 20 de novembro, data em que é celebrado o Dia da Consciência Negra.

A diretora-geral da Casa, Ilana Trombka, explicou que o objetivo é passar a mensagem para a sociedade de que as instituições públicas têm a obrigação de serem antirracistas. “Vivemos num país que tem uma certa dificuldade em debater com maior profundidade os mecanismos racistas que regem a sociedade. Nossa intenção é trazer mais esse tema ao debate público. O racismo permeia o imaginário brasileiro e é preciso que seja discutido. Para combatermos o racismo, primeiro precisamos falar abertamente sobre isso. As organizações públicas têm a obrigação de serem antirracistas. O mito da democracia racial ainda permeia, de certa forma, parte dessa discussão”, afirmou.

Com informações da Agência Senado.

 

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