Ano Sabático – Preparação Para um Novo Ciclo

Reprodução da carta aberta do servidor Antônio Vandir de Freitas Lima:

Brasília-DF, 14 de dezembro de 2021.

Em fevereiro de 1995, após uma intensa batalha, passando por alguns certames públicos, finalmente tomei posse no Senado Federal. Quando fui exonerado do serviço público em 1990, pelo Governo Collor, eu fiz a promessa de que voltaria pela porta da frente; então eu estava realizando a minha própria profecia e a promessa que fiz à minha mulher. Vivíamos um período de transição ainda, o governo militar cedia lugar para o governo civil há muito pouco tempo; então o serviço público estava eivado de servidores com muito pouco conhecimento técnico, causando um choque cultural com os novos entrantes. Nós éramos denominados Seguranças, subordinados ao setor de Serviços Gerais. É claro que existiam muitos colegas valorosos, que não vou nominar para não correr o risco de esquecer alguém. Vestiam fardas e trajes de gala, recebiam autoridades internacionais, davam posse a Presidentes e, de forma bastante eficiente, acompanharam e permitiram o funcionamento do Congresso Nacional no momento de maior empoderamento da República: a Assembleia Nacional Constituinte.

A APCN, Associação das Polícias do Congresso Nacional, já tinha dez anos de atividade. Foi por meio de nossa atuação nessa gloriosa Associação que logramos reconhecimento como Policiais Legislativos Federais. Não foi nada fácil, tivemos que convencer a todos, mesmo havendo previsão constitucional. O SINDILEGIS, Sindicato dos Servidores do Legislativo Federal e TCU, também foi muito importante para a nossa categoria; foi o parceiro da primeira hora, como o é até hoje.

Escrevi artigos em jornais de grande circulação e em revistas especializadas, como a Revista PHOENIX, dos Delegados Federais. Fizemos defesas aguerridas de colegas injustiçados e atacados pela Imprensa; que ainda não nos entende, ou não quer entender, como instituição policial legítima. Sei que é um chavão, lugar-comum, mas posso dizer que eu lutei o bom combate.

Mas, percebo que o ápice da minha carreira, o que me deu mais alegria, foi quando formatei e coordenei o Curso de Formação dos novos Policiais Legislativos, em 2014. Vi naquele momento a continuidade do nosso trabalho, vi a perspectiva de que a nossa Polícia seria aperfeiçoada e aprimorada, assim como fizemos em nossas priscas eras. E mais ainda, vi valorosas mulheres assumindo funções de comando com muita maestria e profissionalismo. Sempre que alguém elogia as nossas Policiais ressaltando atributos de beleza, eu me incomodo e falo que o verdadeiro elogio deve ser aos atributos intelectuais e de competência; que elas têm de uma forma maravilhosa! São inteligentes, engajadas, profissionais e formam a alma da nossa Polícia.

Agora, meus estimados colegas, fechou-se um ciclo de minha vida e devo entrar em um ano sabático. O sábado é o sétimo dia, o dia de descanso, o dia em que a Criação teve o seu desfecho. É o shabat judaico quando o terreno deve ficar descansando após sete anos de cultivo. Quando Moisés estava no Monte Sinai ouviu do Senhor que a cada sete anos a terra deve ter um ano sabático de descanso absoluto; assim os servos e as servas e os trabalhadores contratados deveriam se alimentar do que produzisse livremente, espontaneamente. (Levítico 25: 1-7) O ano sabático é um ano de não-trabalho, um ano de produção espontânea, de cultivo natural; é ano de autoconhecimento, meditação e crescimento pessoal. Também no Livro de Jeremias alertava que todo escravo deveria ser liberto após servir durante seis anos (Jeremias 34: 13-14). Completo mais um ciclo de minha existência, liberto-me do formalismo legislativo e abraço o formalismo jurídico; não sem antes experimentar uma transição; ano sabático, preparação. Eu estou com 57 anos de vida e estou iniciando uma transmutação para tornar-me um avatar no metaverso de um universo huxleyriano.

Posso andar por vários caminhos, travar novas lutas, mas o meu coração eu deixarei prisioneiro nessas paredes, nesse tapete azul, nessa arquitetura deslumbrante. O Sol brilhante no centro do H, a garça pescando no laguinho ao lado da rampa, a fotografia da viatura em cima da calçada ao lado do pavilhão nacional, o desfile das bandeiras no gramado central, a magia do céu azul e imenso, projetando sonhos e esperanças sobre a cidade de Akhenaton.

ANTÔNIO VANDIR DE FREITAS LIMA
Policial Legislativo Federal
Vice-Presidente do Sindilegis para o Senado Federal

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