Diretora-geral do Senado é indicada para Prêmio Viva

Programa permite inclusão de mulheres vítimas de violência doméstica no mercado de trabalho

O trabalho realizado por Ilana Trombka à frente da Diretoria-Geral do Senado recebeu mais um reconhecimento: a diretora do Órgão foi indicada para o Prêmio Viva, da revista Marie Claire, em parceria com o Instituto Avon.

A premiação tem o objetivo de prestigiar pessoas atuantes no enfrentamento à violência contra a mulher no Brasil. Ilana concorre na categoria Empreendedorismo pelo Programa de Assistência à Mulheres em situação de vulnerabilidade econômica em decorrência de violência doméstica e familiar, em vigor no Senado desde 2016. A iniciativa destina uma cota de 2% das vagas de contratos terceirizados à mulheres nessa situação e é realizada em parceria com o governo do Distrito Federal, responsável por identificar essas mulheres. A identidade das mulheres é mantida em sigilo.

A votação ficou aberta ao público até o dia 18 de novembro.  Os resultados serão divulgados durante a premiação que acontece no dia 22 de novembro , no Palácio Tangará, zona Sul de São Paulo. Entre as personalidades confirmadas estão a cantora Elza Soares e a farmacêutica Maria da Penha, símbolo do enfrentamento às violências contra as mulheres, que dá nome à lei sancionada em 2006.

A expectativa da diretora-geral do Senado é que o prêmio dê mais visibilidade ao projeto. “Minha grande esperança é que outras organizações e instituições conheçam o trabalho, se empolguem, se emocionem com ele e que essa cota para mulheres em situação de vulnerabilidade por violência doméstica possa se espalhar por toda a Administração Pública e também para as empresas de economia mista e privadas”, explica.

O prêmio tem 21 finalistas em sete categorias – Saúde; Sociedade Civil; Revendedoras; Segurança, Justiça; Autonomia Econômica e Empreendedorismo; e Eles por Elas (para um representante do gênero masculino com atuação destaque em favor das mulheres).

O Sindilegis conversou com Ilana Trombka sobre violência, resiliência, superação, e sobre essa iniciativa que tem transformado vidas. Confira o bate-papo:

 

Qual a importância desta e outras iniciativas voltadas para mulheres em situação de vulnerabilidade?

Iniciativas que promovam todo o combate à violência contra a mulher, trazendo mulheres em situação de vulnerabilidade para situações de relacionamentos mais saudáveis e perspectivas de vida mais adequadas são sempre muito positivas. E essa especificamente tem uma função primordial que é garantir um local no mercado de trabalho. É garantir um emprego saudável e que dê condições da libertação econômica mas também da retomada da autoestima da mulher e, ao ter sua autoestima e sua confiança novamente, a mulher também trata a si e a toda a sua família, rompendo o ciclo de violência. Portanto, iniciativas dessa maneira são muito relevantes para minimizar, diminuir os números de violência contra a mulher.

Você acredita que outros Órgãos do governo deveriam investir em programas similares?

Sim. E a minha grande esperança é que a indicação para o Prêmio Viva, do Instituto Avon e da revista Marie Claire, dê visibilidade a esse trabalho e que outras organizações e instituições conheçam o trabalho, se empolguem, se emocionem com ele e que essa cota para mulheres em situação de vulnerabilidade por violência doméstica possa se espalhar por toda a Administração Pública e também para as empresas de economia mista e privadas. É um ato de vontade de gestão e gerir para a comunidade, gerir para o bem, é ter essa cota em situação de vulnerabilidade.

Quais dificuldades foram enfrentadas na implementação do programa?

Como esse foi um programa pioneiro, não havia em quem se inspirar, em quem fazer bench marketing, nós tivemos que fazer um estudo preliminar para descobrir que organizações poderiam trabalhar com o Senado e servir de banco de cadastro para as mulheres em situação de vulnerabilidade, essa instituição é o Governo do Distrito Federal. Atualmente a SEDESTMIDH (Secretaria de Estado do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos). E uma segunda dificuldade, depois que passamos essa primeira, é conseguir mulheres que tenham perfil adequado aos contratos. Por vezes, não há uma grande quantidade de mulheres com perfil adequado a este ou aquele contrato. Recentemente, quando tivemos que contratar 17 mulheres, demoramos bem mais de um mês para conseguir currículos porque as vagas exigiam ensino médio.

Qual o impacto do projeto você vê no Senado e na vida das beneficiadas?

O impacto é enorme. Na vida das beneficiadas é a mudança de uma vida que não é saudável, uma vida de violência para uma vida saudável e de respeito. A mudança entre se respeitar e ter orgulho de si mesma, acreditar que você é uma pessoa que contribui para a sociedade. A diferença de se olhar no espelho e ter orgulho daquilo que você faz. A diferença de ter a certeza de que seus filhos também terão uma vida saudável e construirão relações respeitosas. E para o Senado Federal é uma missão. É a nossa missão ser um exemplo entre as instituições públicas e é nossa missão buscar as melhores práticas. E se elas ainda não estão implantadas em outros orgãos é nossa missão ter coragem para começar a implantação no Senado. E foi o que fizemos. Eu diria que cada família que se cura desse mal, dessa chaga que é a violência contra a mulher, é todo o Senado que sai se sentindo melhor porque ele sai orgulhoso da sua atuação institucional.

Você acredita que o prêmio dá mais visibilidade ao projeto? Se sim, acredita que ele pode contribuir para que ele seja implementado, também, em outros Órgãos?

É claro. Eu acho que a grande premiação do Viva não é exatamente qual dos três projetos indicados subirá ao palco para receber o prêmio, mas sim a oportunidade que toda uma multidão de pessoas, formadoras de opinião, pessoas com cargos importantes na sociedade possam conhecer as iniciativas de combate à violência contra a mulher. E ao conhecer possam se encantar com elas. Já é  um prêmio estarmos entre os finalistas do prêmio Viva porque eu tenho certeza que, depois dessa experiência, outras instituições também vão adotar essa cota, e outras mulheres terão as suas vidas transformadas.

Como foi a recepção do projeto dentro da Casa, pelos servidores?

Eu diria que os servidores têm orgulho do Senado e mais orgulho ainda quando sabem dessas iniciativas. Eu percebo que os servidores do Senado também se enriquecem quando partilham a sua rotina com pessoas que têm situações de superação. Porque ao superar a situação de violência, essa mulher dá uma lição de que é possível, sim, superar as situações de dificuldade. Então eu percebo que a recepção é sempre muito bacana e me sinto muito à vontade, muito apoiada, para propor aos meus colegas, novas ações nesse sentido.

São várias as formas de violências que as mulheres enfrentam. De que forma o programa contribui para o fortalecimento desse debate?

Primeiro ele traz a questão efetivamente para dentro da Casa, na sua realidade cotidiana, fazendo com que lembremos que este é um problema, um problema grave na sociedade, uma chaga da sociedade que precisa ser combatido. E de outro lado, ele contribui para o fortalecimento do debate sobre a forma de inserção à sociedade da mulher vítima de violência, mostrando que o trabalho, que a empregabilidade, que a mulher produtiva é a mulher que retoma a sua vida, e retoma com sucesso na sua vida financeira, tendo um emprego de carteira assinada. Mas principalmente com sucesso na sua vida financeira, podendo dormir tranquila à noite, podendo educar seus filhos com tranquilidade.

Quais outros projetos voltados para o enfrentamento à violência contra mulher você gostaria de ver implementados no Senado e demais Órgãos do Legislativo?

Eu gostaria que a Casa continuasse a fomentar esse debate de equidade de gênero. Eu gostaria que a Casa continuasse a dar liberdade e abertura para que seus servidores possam atuar da melhor forma e parte dessa atuação seja voltada para ações de empatia e ações para o bem comum. Ações que garantam ao outro, a qualidade de vida que temos. Meu sonho é que todos nós possamos debater as questões do combate à violência e que, juntos, possamos buscar soluções para que daqui a alguns anos, também juntos, comemoremos essa questão da violência contra a mulher, como algo que ficou no nosso passado.

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