Especialistas cobram mudanças na condução do Governo no enfrentamento da crise causada pela Covid-19 no 1º Café com Política de 2021

Debate reuniu pesquisadores das áreas de ciência, política e economia para discutir cenário devastador e as consequências do coronavírus

Como os países podem se preparar para lidar com os impactos sociais e econômicos provocados pela pandemia de COVID-19? Essa temática foi o fio condutor da 1ª live de 2021 do Café com Política, realizada nesta quinta-feira (22). O debate foi transmitido pelo YouTube do Sindilegis.

A discussão contou com um time de debatedores de peso: a PhD em Microbiologia e professora da FGV Natalia Pasternak; o PhD em Economia e escritor Eduardo Giannetti; e o analista político e doutor em Ciências Sociais e Jurídicas Melillo Dinis. O secretário-geral do Sindilegis, André Galvão, participou como debatedor. Já a moderação da live ficou sob o comando da jornalista e diretora da Secretaria de Comunicação Social do Senado, Érica Ceolin.

Assista novamente abaixo:

Natalia Pasternak afirmou que não existe resposta pronta sobre o panorama das crises sanitária e econômica, mas enfatizou a importância de acabar com a falsa dicotomia entre o controle da pandemia e a economia, como se fossem questões antagônicas. “Um vírus está acabando com a economia global. E é só a contenção efetiva da pandemia que vai possibilitar uma retomada da economia não só no Brasil, mas no mundo. A crise sanitária e a crise econômica são interligadas e a solução para ambas também”, apontou.

Para ela, o lockdown e as medidas de restrição de mobilidade são medidas necessárias e as principais alternativas no momento. “A vacinação no Brasil vai seguir lenta e insuficiente até pelo menos a metade do ano. E mesmo isso é incerto porque depende do cumprimento dos contratos e da transferência adequada de tecnologia nunca antes implementada no Brasil e, portanto, sujeita a todos os percalços de qualquer processo industrial”, ressaltou.

Giannetti destacou que a recuperação da economia depende fundamentalmente do avanço no combate à Covid. Ao fazer considerações sobre o cenário mundial e o brasileiro, o economista enfatizou que os países mais avançados em relação à vacinação estão voltando a alcançar uma taxa de crescimento expressiva, como nos casos da China (6,5%) e dos Estados Unidos (4%). “O Brasil está atrasado no processo de vacinação e vivendo uma segunda onda com números muito preocupantes. Por conta do agravamento da Covid no início de 2021, o cenário econômico brasileiro piorou. Nós vamos ter um ano de baixo crescimento, o quadro fiscal se agrava por conta do impasse no Orçamento, que está extremamente nebuloso, e por conta dos gastos adicionais emergenciais e inevitáveis impostos pela pandemia. O auxílio emergencial este ano é muito menor, e, portanto, não vai ter o impacto que teve ano passado. A questão fiscal será o grande tema econômico no Brasil pós-pandemia”, ponderou.

Melillo Dinis avalia que as alternativas para sair da crise são a política, a ética e o humanismo. Para ele, o falso dilema entre a priorização do combate à pandemia ou a manutenção da economia empobrece a realidade e representa um grave equívoco político. “O Brasil não conseguiu superar algumas percepções por causa de um modelo típico de fazer política fincado no autoritarismo, no patrimonialismo, no elitismo e no clientelismo”, disse. “Essa crise política que nós estamos enfrentando ao lado de uma crise sanitária e econômica tem a ver com algo que está crescendo na sociedade brasileira: uma paixão pela ignorância, colocando o lugar do saber como um lugar do poder. O uso desse formato de perceber o conhecimento resulta em negacionismos e insanidades ideológicas”, acrescentou.

Vacinação – Em resposta à mediadora do debate, Érica Ceolin, Natalia Pasternak disse que não é possível especificar o número de vacinas que seriam necessárias para imunizar a população no Brasil. “Nós não temos número mágico de cobertura vacinal para uma doença que ainda não conhecemos e estamos usando diferentes vacinas. É uma situação única e sem precedentes. Até porque o mundo inteiro começa agora a experimentar a efetividade das vacinas no mundo real, fora do ambiente de testes clínicos”. A microbiologista afirmou que o único gargalo para imunizar os brasileiros é o número de doses da vacina e ressaltou que o país possui um dos melhores planos de imunização do mundo.

O secretário-geral do Sindilegis, André Galvão, reforçou que embora a maior preocupação hoje seja a imunização coletiva no menor espaço de tempo, o vírus não vai desaparecer do planeta. “Não haverá um pós-covid sem uma preocupação com o todo sistema de proteção e amparo à saúde no Brasil, que vai demandar um esforço de planejamento muito maior do que a gente vê agora por parte do Estado brasileiro. O pós-covid será como uma Covid planejada tais como outras doenças endêmicas. O Brasil precisa se preparar para que outra pandemia não assole o país como essa”, afirmou.

Enfrentamento da pandemia e política – Na opinião de Melillo Dinis falta uma política para controle da pandemia e retomada da economia por conta do governo federal. “Vivemos um marco trágico e me chama muita atenção a completa falta de projeto para sairmos dessa crise sanitária e econômica oferecido pelos políticos profissionais. Há um descompasso entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes, há um desafio na gestão da saúde pública dentro do Ministério da Saúde, onde já passaram quatro ministros, e para piorar, as oposições são muito divergentes e com pouco diálogo com a sociedade civil. É muito difícil, mas nós vamos que ter que mudar”.

Eduardo Giannetti concordou que a solução para sair da atual crise passa pela mudança de rumo na política. “É um infortúnio para o nosso país essa combinação de um evento pandêmico, com desgoverno e negacionismo. A solução é participar da política, construir uma alternativa de poder e evitar a polarização raivosa que dominou as eleições de 2018, com total interdição do diálogo”, concluiu.

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