Especialistas defendem reforma tributária mais ampla e justa em última live da série especial do Café com Política  

 

Painelistas convidados pelo Sindilegis debateram propostas em tramitação no Poder Legislativo que visam modificar sistema tributário do país

 

Foi ao ar nesta quinta-feira, 03/09, o quarto e último episódio da série especial do Café com Política sobre Reforma Tributária. As propostas para alterar o sistema de arrecadação de tributos que estão sob análise no Congresso Nacional balizaram a discussão. O fórum contou com a participação dos painelistas Romero Jucá, economista, ex-senador e ex-ministro da Previdência e Planejamento, Orçamento e Gestão; Mirian Lavocat, advogada tributarista e consultora da Comissão de Direito Tributário da OAB; e Kléber Cabral, auditor fiscal da Receita Federal e presidente do Sindifisco Nacional. O time de especialistas defendeu uma reforma ampla e justa.

 

A jornalista da Câmara Ginny Morais conduziu o debate, que teve a participação do repórter de economia do jornal O Globo Marcello Corrêa e do vice-presidente do Sindilegis para o TCU, Alison Souza, que fizeram perguntas aos convidados. Assista a íntegra da transmissão aqui.

 

Reforma tributária deve estimular geração de empregos

 

Para Romero Jucá, o Brasil carece de uma reforma ampla e estruturante. Na avaliação dele, a proposta do governo federal aumenta a carga tributária de setores que são fundamentais para a recuperação da economia pós-pandemia. O ex-senador considera que as mudanças sugeridas pela equipe econômica vão afetar a capacidade do setor de serviços de gerar empregos. “Vamos pegar o exemplo da somatória do PIS/COFINS: o setor de serviços, se isso for aprovado, vai sair de 3,8% para mais de 12%. Na verdade, o (ministro) Paulo Guedes e a equipe querem ter a separação de impostos federais e de impostos estaduais e municipais. Não há uma clareza ainda efetiva de como nós vamos ter que atuar para voltar a gerar emprego”, declarou.

 

A desoneração da folha de pagamento – redução de encargos pagos pelas empresas sobre os salários – é outro desafio, de acordo com Jucá. “O setor de serviços não gera crédito de PIS/COFINS, então fica aí o grande dilema da desoneração da folha. Como vai desonerar? Criando um imposto novo por CPMF? O que vai compensar?”, questionou.

 

“Todo mundo fala no discurso da boca para fora que a reforma tributária deve ser neutra. Todos os agentes públicos esperam que a reforma aumente a arrecadação de cada agente. Então essa conta não fecha”, acrescentou.

 

Sistema tributário mais justo

 

Kléber Cabral afirmou que a tributação sobre o consumo é muito elevada e sobrecarrega os mais pobres. Segundo ele, o ponto crucial da reforma tributária deve ser estabelecer um sistema mais equilibrado para as todas as faixas econômicas. “As PECS 45 e 110 buscam uma simplificação, o que é muito importante, mas nós queremos também um sistema tributário mais justo, que respeite a capacidade contributiva e o princípio da progressividade. Ou seja, quem pode mais tem que pagar proporcionalmente mais. E hoje nós temos no Brasil uma distribuição do peso dessa carga tributária sobre os ombros dos brasileiros de uma forma muito injusta. A tributação sobre o consumo é muito alta e acaba atingindo principalmente os mais pobres. A classe média assalariada, além de ser tributada sobre o consumo, também paga muito Imposto de Renda e aí você tem algumas espécies de tratamento tributário para os recebedores de dividendos, por exemplo, porque eles recebem os dividendos de forma totalmente isenta”, enfatizou ao destacar que o Sindifisco está elaborando uma proposta de tributação sobre a renda para ampliar a faixa de isenção, que será entregue no Congresso.

 

Ajuste fiscal é solução para os problemas econômicos?

 

Mirian Lavocat acredita que o ajuste fiscal é uma das tarefas para um Estado mais eficiente e com crescimento econômico, mas não é a solução. Em resposta endereçada ao vice-presidente do Sindilegis, a advogada ressaltou que as atuais propostas de reformulação para arrecadação de tributos não vão diminuir a carga tributária, e sim aumentá-la. “O mundo não adota mais a tributação que nós temos. Então é necessário sim revisitar, rediscutir e procurar, acima de tudo, um modelo mais eficiente e mais simplificado. Se nós olharmos a realidade das empresas hoje, elas gastam em torno de 2.600 horas/ano para cumprir só obrigações acessórias. Então é evidente que o sistema precisa ser repensado e discutido, mas eu não vejo como a grande solução” avalia Mirian

A advogada e economista ainda ressalta não acreditar que a única resposta para os problemas do País resida apenas na renovação das regras tributárias: “Nós temos situações estruturais que precisam ser mais bem repensadas para o crescimento do país. O sistema tributário tem um grande peso porque, acima de tudo, ele traz uma insegurança jurídica para o investidor estrangeiro, mas simplesmente ele não vai ser a solução de nossos problemas. Muito pelo contrário. Com as propostas que nós temos hoje, é indiscutível que nós teremos aumento da carga tributária. Alguns setores serão penalizados fortemente”, ponderou.

 

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