Mulheres compartilham histórias de vida, desafios e superações no 3º Café com Política – Armas contra o Machismo

“O feminicídio não deve ser pautado apenas no mês da mulher, mas combatido ferozmente até que a realidade mude de fato”, afirmou o presidente do Sindilegis, Petrus Elesbão

Voz. Coragem. Protagonismo. Mais do que palavras, essas foram as principais armas contra o machismo que mulheres utilizaram para enfrentar a desigualdade de gênero durante toda a vida. Ao compartilhar depoimentos emocionantes, palestrantes do 3º Café com Política do Sindilegis contaram histórias, desafios e superações para parlamentares, dirigentes de entidades sindicais e servidores. O evento abordou o feminicídio, a violência doméstica, o machismo e o empoderamento feminino.

“A cada duas horas uma mulher é assassinada. Durante esse evento, que tem duração de quatro horas, infelizmente duas mulheres perderão sua vida. Isso mostra como essa questão não deve ser pautada apenas no mês da mulher, mas combatida ferozmente até que a realidade mude de fato”, afirmou o presidente do Sindilegis, Petrus Elesbão.

O evento ocorreu na manhã da sexta-feira (12) e contou com a participação da deputada federal Erika Kokay (PT-DF); Ilana Trombka, diretora-geral do Senado Federal; a primeira mulher comandante da Polícia Militar do DF, coronel Sheyla Sampaio; a primeira mulher brasileira a se tornar defensora pública interamericana, Rivana Ricarte; e a jornalista e a escritora Nana Queiroz, autora do livro “Presos que menstruam”.
“A maior parte das agressões que sofremos não deixam marcas visíveis”

As diretoras do Sindicato Magda Helena e Fátima Mosqueira, as mulheres que compõem a diretoria do Sindilegis, abriram o evento compartilhando depoimentos comoventes. Ao contar momentos que a marcaram durante sua vida, Fátima refletiu que “são tantas as violências veladas que sofremos que a gente cresce sem saber que aquilo é violência. E desde muito cedo começamos a nos agredir”.

Ela contou que, na adolescência, era constantemente constrangida por ter as pernas finas, mas as ofensas, que no passado a fizeram chorar, não a impediram de crescer: “A maior parte das agressões que sofremos não deixam marcas visíveis, pelo menos não aos olhares mais atentos”.

Magda também compartilhou momentos marcantes de sua vida, que a ensinaram desde cedo o que era o machismo, mesmo sem ela entender completamente: “Eu sou filha de pai alcoólatra e, nas noites que ele bebia, esperava todo mundo dormir para esconder, debaixo do meu travesseiro, todo tipo de coisa que pudesse usar para proteger minha mãe, como facas, garfos e espetos. Conto isso hoje não para difamar meu pai, mas para contribuir para que casos assim não ocorram mais”.

O deputado André Janones (Avante-MG), que também prestigiou o evento, assumiu para todos que “este que vos fala agora é um machista, e descobri há pouco tempo”: “Pensava que machista era quem agredia, violentava mulheres. E descobri que esse sentimento de ‘dar atenção especial’ ‘cuidar’ da mulher reforça o estereótipo de sexo frágil e dá margem para episódios lamentáveis que vivemos recentemente”.

A estrutura do machismo desumaniza a mulher

A roda de debates teve início com a diretora-geral do Senado Federal, Ilana Trombka, que destacou todas as ações da Casa em vistas à equidade de gênero: “No dia 1º de fevereiro, quando os senadores chegaram ao Congresso, encontraram em sua mesa um calendário sobre assédio moral. A estrutura do machismo desumaniza a mulher. Por isso, temos que trabalhar a educação em todos os níveis”.
Trombka também ressaltou outra iniciativa do Senado, implementada no ano passado. O programa de assistência da Diretoria-Geral da Casa determina que 2% das vagas nos contratos de prestação com mais de 50 trabalhadores sejam destinadas a vítimas de violência doméstica.

Rivana Ricarte destacou que a Defensoria Pública é a instituição do sistema de Justiça com o maior número de mulheres. No órgão, mulheres e homens ocupam cargos em níveis hierárquicos na mesma proporção – 49% mulheres, 51% homens. “Na defesa dos direitos das mulheres, a atuação da Defensoria pode ocorrer em diversas temáticas, como no atendimento às mulheres em situação de rua, às mulheres encarceradas e no enfrentamento à violência doméstica e familiar, bem como à violência obstétrica”, disse.

A coronel Sheyla Sampaio apresentou aos participantes o Policiamento de Prevenção Orientado a Violência Doméstica (Provid), que tem atuação em basicamente 30 unidades operacionais: “Até hoje ele tem 100% de efetividade, todas as famílias foram atendidas por meio de uma denúncia”.
A comandante também ressaltou que, na Polícia Militar, o machismo não é algo inerente ao homem: “Nós, como mulheres, imbuímos preconceitos e passamos para nossos filhos, companheiros e colegas de trabalho. Devemos nos conscientizar sempre e não naturalizar o machismo na nossa vida”.

“Se nasce mulher”

Ao citar a filósofa Simone de Beauvoir, a deputada Érica Kokay salientou que “não se nasce mulher, se torna mulher”: “Desde quando nascemos nos tornamos vítimas de uma subalternação e naturalizamos as diversas formas de violência. É preciso identificar as paredes e tetos de vidro pra que possamos combatê-las. Por exemplo, as mulheres não chegam nos postos de poder por não serem capazes, mas há um processo de construção de culpabilização da vítima”, disse.


Em busca de dar voz às vítimas de violência doméstica, o Café com Política contou com a participação da paisagista Elaine Caparroz, que foi violentamente agredida por um advogado neste ano. Elaine contou a todos que nunca imaginou que viveria uma situação dessas, mas é “forte e otimista” e está buscando de todas as formas conscientizar o maior número de pessoas: “Nós temos que nos unir. Só assim vamos conseguir criar uma política eficaz contra a violência doméstica. Precisamos criar serviços de orientação psicológica e jurídica para mulheres de baixa renda. O acolhimento é o único tratamento digno para a vítima”, disse.

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