Nonato Freitas


Nonato Freitas, nascido no Ceará, é um jornalista, poeta e pesquisador que posteriormente se estabeleceu no Distrito Federal. Com formação em Letras e Literatura Portuguesa, também se pós-graduou em Literatura Brasileira pela Universidade Católica de Brasília. Durante sua trajetória, associou-se a José Américo de Almeida na composição do prefácio para a “Antologia Ilustrada dos Cantadores”, uma obra fundamental para estudos sobre a poética dos trovadores. Além disso, Freitas integra o Coletivo de Poetas, com o qual contribuiu para a criação de “Linguagens e Brasilidade”. Tem em seu repertório obras como “Costurando a Chuva” e “História da Cantoria – Os 300 Maiores Improvisos de Todos os Tempos”. Seu talento não se limita à escrita; ele também é coautor de um documentário produzido pela TV Senado chamado “O Homem que Viu Zé Limeira”.

Seu envolvimento com a literatura e a cultura brasileira é profundo. Nonato Freitas viveu em Teresina (PI) antes de fixar residência em Brasília. Seus esforços enquanto ensaísta, palestrante e membro ativo do Coletivo de Poetas ampliaram sua influência no cenário literário. Nonato, além de suas contribuições escritas, é reconhecido como o idealizador e coautor do documentário sobre Orlando Tejo, o autor do aclamado “Zé Limeira, Poeta do Absurdo”, transmitido pela TV Senado. Este trabalho gerou discussões sobre a possibilidade de Zé Limeira ser uma criação fictícia de Orlando Tejo.

AS ORIGENS DA CANTORIA DE VIOLA

Por Nonato Freitas

Considerado um dos mais importantes estudiosos da cultura popular nordestina, o folclorista, escritor e jornalista Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) afirma em seu livro “Vaqueiros e Cantadores” que o ponto inicial da Cantoria dos Repentistas Nordestinos são os cantos Amebeus Gregos.
Os cantos amebeus eram executados por pastores de ovelhas enquanto pastoreavam os rebanhos no campo.
As cantigas vinham em forma de porfias.
É possível que esses cantos tenham migrado da Grécia para outros países europeus. Segundo Câmara Cascudo, os poetas latinos Horácio e Virgílio teriam testemunhado a presença dos cantos amebeus em território da Itália.
Os argumentos de Cascudo são, no entanto, veementemente rebatidos por estudiosos contemporâneos, notadamente por pesquisadores acadêmicos, através de robustas teses de mestrado e doutoramento.
De acordo com o respeitado escritor, jornalista e poeta Orlando Tejo, nascido em Campina Grande, PB, (1935-1918), autor do livro “Zé Limeira, Poeta do Absurdo”, obra-prima da literatura brasileira, as raízes da Cantoria de Viola estão mesmo fincadas na região do Teixeira.
Os primeiros sinais da cantoria no Brasil começam com a poesia popular de Agostinho Nunes da Costa (1897 – 1852), pai de Ugulino do Sabugi (1832 – 1895), lendário nome da cantoria nordestina. Agostinho era pai também de Nicandro, o poeta ferreiro, e de Guilherme. Os três filhos de Agostinho eram exímios repentistas.
Do velho tronco agostiniano, a cantoria de viola foi se expandindo por toda a região da Serra do Teixeira. Nas noites de breu os céus da região viviam incendiados por miríades de Estrelas. Enquanto os astros faiscavam na vastidão do infinito, os poetas populares iam plantando nas abas da serra a fecunda semente da poesia popular.
A métrica e as rimas dos versos de Agostinho e de seus três rebentos eram elaboradas com esmero e arte.
Os sítios, fazendas e casas da região viviam entupidos de gente. Os donos e donas de casa recebiam os poetas com indisfarçável alegria.
Na época, as cantorias de pé de parede varavam as madrugadas. Os eventos começavam às 8 horas da noite e só terminavam às 6 da manhã.
Os poetas e cantadores do passado se apresentavam com frequência nas seguintes localidades:
Mãe D´água, Vila de Matureia, que virou depois a cidade de Matureia, Desterro e Cacimbas, esta pertencente a Desterro. Na mesma região, destacavam-se também as cidades de Livramento e Taperoá — terra de Abdias, Ariano Suassuna e Vital Farias.
Além das localidades citadas, os poetas do passado “assinavam ponto” igualmente no Sítio Tauá, onde nasceu o famoso poeta Zé Limeira. No roteiro dos poetas populares constavam, ainda, o Sítio Aliança, o Sítio Tejo e o Sítio Vera Cruz, localidades históricas de grandes cantorias.
A poesia era um rio perene que corria na região e ia desembocar no povoado do Tigre, que fica entre Santa Teresinha, em Pernambuco, e São José do Egito, no mesmo estado.
Qual seria a explicação para o fato da cantoria ter suas origens encravadas na região do Teixeira?
Segundo o poeta e repentista Jomaci Dantas, natural de Patos, na Paraíba, também promotor de grandes eventos culturais, as razões pelas quais a cantoria nasceu na região do Teixeira não têm explicação.
Para ele, os ventos do Olimpo chegaram na Serra da Borborema guiados pelas mãos divinas.
“Os primeiros passos da cantoria poderiam
ter ocorrido no Piauí, Ceará ou em qualquer outra parte do País. Mas quis o Onipotente que a semente da cantoria fosse lançada aos pés de Agostinho Nunes da Costa, na Paraíba”, diz o poeta.
Sob o refinado olhar de Agostinho e de seus filhos (Ugulino, Guilherme e Nicandro), as perfumadas pétalas da roseira foram se abrindo até a cantoria se transformar na joia preciosa que ela representa hoje para o planeta.
Com uma linguagem simples e ao mesmo tempo sofisticada, a arte da cantoria de viola continua a brilhar intensamente no garimpo da poesia como um diamante.
Em conversa com este repórter, o poeta e escritor Geraldo Amâncio, membro da Academia Cearense de Letras, apontado como um dos mais talentosos repentistas do Brasil, afirmou que as origens da cantoria estão vinculadas ao velho mundo Árabe. Os argumentos do poeta se apoiam em tese defendida por um importante intelectual, amigo seu, que mora em Portugal.
Os primeiros acordes de viola e da cantoria, segundo as pesquisas realizadas por esse amigo de Geraldo Amâncio, surgiram em antigos califados árabes.
É possível que esses primeiros sinais da cantoria, ao lado do cordel e de instrumentos de cordas, tenham chegado à Península Ibérica na época em que os mouros dominavam o território. A invasão da península corre em 711 da era cristã.
E fica sob o controle dos mouros por cerca de oito séculos.
Durante nossa conversa, o poeta Geraldo Amâncio gravou um depoimento sobre as origens da cantoria, cuja íntegra passo ao conhecimento dos colegas e amigos que participam do Sarau de João Pessoa.

Confiram:


Entrevistei também o poeta, repentista e compositor Ivanildo Vila Nova. Estudioso profundo dos fatos ligados à cultura popular nordestina, o notável cantador defende, igualmente, que a cantoria no Brasil nasceu na Paraíba.
Sua resposta veio em forma de um improvisado e elucidante martelo agalopado, conhecido também como décima, estilo que entrou para o mundo dos repentistas como um dos mais importantes instrumentos da cantoria.
Ei-lo, na voz do próprio Ivanildo:

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