Viúva de John Grangeiro utiliza cinzas do marido para plantar árvore

“Árvore casca grossa”. É assim que o ipê é conhecido. E foi assim que John Grangeiro agiu durante os seis meses que ficou em uma UTI lutando pela vida. Ele foi bravo e lidou com as consequências do coronavírus até onde pode. Mas, a doença era cruel e John não resistiu. Porém, sua força será eternizada e irá florescer. “Cascudo”, John será um lindo ipê branco.

Em maio deste ano, John e toda a família foram surpreendidos pelo diagnóstico da Covid-19. A doença o levou para a UTI de um hospital e ao longo de seis meses o lugar gélido virou a morada dele e da esposa, a professora Cátia Grangeiro, que acompanhava o marido de maneira incansável. Ao longo desse tempo, os amigos foram a grande força. Em uma corrente do bem, ajudaram a mantê-los firmes, com doações materiais e de amor.

“O John era muito querido e pude comprovar isso quando tantas pessoas se uniram para nos ajudar no momento mais difícil de nossas vidas. Foi emocionante ver quantos amigos estavam ao nosso lado”, refletiu Cátia.

“Ajudar o outro também é nossa missão. Infelizmente, não tive a oportunidade de conhecer o John pessoalmente, mas soube da história e pude ajudá-los e buscar ajuda de outros colegas. É muito gratificante ver que as pessoas ainda se unem de maneira tão bonita em prol dos outros”, disse Paulo Cezar, vice-presidente do Sindilegis.

Aos 46 anos, o servidor comissionado da Câmara dos Deputados John Grangeiro foi mais uma vítima da Covid. No entanto, a sua luta incessante e a vontade de viver foram determinantes para que Cátia decidisse usar as cinzas do marido para plantar uma árvore. A escolhida? Um ipê, a árvore cascuda, exatamente como John, que não se entregou. A família utilizou uma urna biodegradável e, em um espaço no Clube da Ascade, usou a sensibilidade para manter viva a memória do ente querido.

 

A urna biodegradável promete transformar as cinzas em fonte de adubo para a plantação de árvores. A prática é recente no Brasil, mas Cátia, curiosa, como ela mesma se intitula, decidiu eternizar a memória do marido utilizando a técnica. “Eu sou muito curiosa. Pesquisando, eu vi que havia essa possibilidade. Não pensei duas vezes em decidir que usaria as cinzas do meu marido para esse fim. Assim, poderei dizer até para os meus netos que o meu marido ajudou aquela árvore a nascer. Ali ele estará eternizado”.

O processo que transforma o corpo em nutrientes para plantas é bem simples: após a cremação, as cinzas são depositadas em uma urna biodegradável, que é enterrada juntamente com adubo e sementes da flora nativa. Com sua decomposição, que ocorre naturalmente, a árvore crescerá extraindo do solo e das cinzas as substâncias necessárias para o seu desenvolvimento.

Diante de um sol forte, a família fez um momento emocionante para se despedir daquele que tinha como marca registrada a força e a vontade de viver. A urna que levava as cinzas de John servirá de fonte de vida para o ipê que irá florescer. Assim, ele não partiu, apenas se transformou e, certamente, a árvore plantada com as cinzas de John só receberá amor e dentre tantas, será a mais brilhante da cidade.

Hoje, 5 de dezembro, um mês após a morte de John, o dia poderia ser de tristeza e lamento, mas não, hoje  traz boas lembranças e a certeza de que tudo pode acontecer, tudo pode passar, mas John estará fincado em terra firme e, ano após ano, irá desabrochar lindas flores brancas.

 

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