Remédio X Veneno

Há um consenso geral de que é preciso organizar a economia do país e o Orçamento da União. A Presidente Dilma, com o aval do Ministro Joaquim Levy, encaminhou ao Congresso Medidas Provisórias que alteram o direito previdenciário, em detrimento de conquistas do trabalhador brasileiro.

Concomitantemente, o governo promoveu importantes reajustes tarifários de energia, de combustíveis e retirou estímulos tarifários setoriais, implantados pelo ex-Ministro Mantega, tudo para corrigir a demagogia eleitoreira de redução das tarifas do setor elétrico, ausência de planejamento, manutenção de preços políticos de combustíveis, ausência de investimento, muito marketing e corrupção em excesso.

Entretanto, Economia é algo mais complexo e não devia existir nenhuma decisão tomada por um só expoente, mas sim por um colegiado. Ao mesmo tempo, não deixa de ser simples, guiada por uma lógica simples de origem, parecida com o gerenciamento de uma casa, uma loja, uma indústria, um município, um estado e um país. Há semelhança. Precisa de equilíbrio, bom senso, recursos, etc.

As providencias corretivas e impostas ao cidadão brasileiro, à economia brasileira, são providenciais, corajosas, corretas. Pior que isso, ainda faltam algumas.

O aumento dos preços dos combustíveis, eletricidade – molas do parque industrial instalado e dos serviços – súbita e em dose alta, na base da economia, tem um efeito multiplicador enorme.

As medidas fizeram o dólar subir, é verdade, mas, subiu o suficiente para dar competitividade ao produto brasileiro? Será esse o mecanismo correto ou é custo de produção e logística que nos dá competitividade? Será que os setores que se beneficiaram justificam as medidas.

O Banco Central elevou a taxa Selic, subindo o custo do dinheiro. Que empresário vai pegar esse dinheiro para investir com todo a conjuntura contra ele? Que setor lucra com isso, senão o financeiro? Além disso, considere, paralelamente, que à medida que o Banco Central eleva a taxa Selic, eleva junto a dívida do setor público. O Orçamento da União prevê algo em torno de 44% para pagamento da dívida, com tendência a crescer, sobram 56% para Despesas Correntes e Investimentos, que só tenderão a diminuir.

Diante dos fatos, como é possível planejar sem, antes, solucionar essa situação, com seriedade, com a ajuda do Congresso Nacional, sem repassar o custo de transição para o povo? Por que jogar a culpa no resto da economia? Por que só dizer que não existe recurso para investir? Por que dizer que é preciso privatizar? etc. Assim parece o óbvio. Errado é arranjar bode expiatório, que não vai resolver nenhum problema, tirando o foco dos fatos? Por que os governantes não olham para a realidade? Quem está mandando neste país? Nas mãos de quem estamos? O que devemos fazer?

O povo, a mídia e o Congresso fala o tempo todo na excessiva carga tributária e o ministro a eleva. É disso que o país precisa?

Esse mesmo povo, mídia e Congresso também falam o tempo todo no excessivo endividamento e o BC eleva a taxa para conter a inflação. É disso que o país precisa?

Perguntemos: Temos um governo para o povo? Temos um Congresso para o povo? Porque não adianta deixar acontecer e chamar o povo para pagar as contas. Isso se chama covardia.

O pacote de medidas implantado pelo governo subiu todos os custos e encolheu a renda. Só esqueceu que, ao fazer isso, provavelmente terá implicações negativas na arrecadação. O mercado interno está sendo sacrificado. Com a queda súbita da renda e com o aumento do custo do crédito, cai a demanda e, quando isso está acompanhado de um mercado externo retraído, ainda que se tenha produção, onde escoá-la? Isso leva à recessão, quebradeira, desemprego e queda da arrecadação. Daí, o que fazer? Aumentar os impostos, novamente?

Assim, com a dosagem do bom remédio proposta pelo Executivo, apoiado pelo Congresso, teremos a maior recessão, o maior desemprego, a maior quebradeira e, talvez, a maior queda de arrecadação da história recente do Brasil. Atravessaremos uma época muito difícil, tentativas desesperadas de privatização e uma internacionalização ainda maior das poucas empresas brasileiras ainda existentes.

Fico, pois, preocupado, imaginando se Ministro Levy sabe que a diferença entre o remédio e o veneno está, muitas vezes, na dosagem. Parabéns, Ministro Levy e senhores Congressistas, pelas medidas, mas lamento pela dosagem. Acho que o paciente vai morrer. 

Ogib Teixeira de Carvalho Filho
Diretor de aposentados e pensionistas do Sindilegis

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