Em seminário “Expressões e vivências negras em movimento”, gestores públicos pedem que discussões sobre questões raciais se estendam além do mês de novembro

O Instituto Serzedello Corrêa foi palco, nessa quinta-feira (9), para a realização do seminário “Expressões e vivências negras em movimento”, uma iniciativa conjunta entre Senado, TCU, Câmara e Sindilegis que busca dialogar sobre temáticas raciais, como branquitude, cultura, antirracismo e negritude. A iniciativa faz parte do calendário de ações pelo dia 20 de novembro, quando é celebrado o Dia da Consciência Negra.

Em um primeiro momento, na mesa de abertura, a questão de se estender o debate para além do mês de novembro foi unânime. Stella Vaz, coordenadora do Comitê Permanente pela Promoção da Igualdade de Gênero e Raça do Senado Federal, explicou que a ideia de uma atividade conjunta surgiu após o lançamento do guia “Como não ser um babaca”, produzido pelo Sindilegis, pelo Dia da Mulher em 2023. “Devemos refletir não só sobre como não ser um racista, mas sobretudo, diante da nossa posição social, diante da mudança que a nossa caneta já alcança, de como sermos antirracistas. Queremos, com isso, garantir que a nossa história, cultura e memória, que as nossas expressões e vivências negras permaneçam vivas e em livre movimento”.

Ilana Trombka, diretora-geral do Senado Federal, falou sobre a necessidade dos gestores públicos se debruçarem sobre essa questão: “É muito importante que busquemos movimento de valorização das religiões afro-brasileiras, da cultura negra e, acima de tudo, que a gente aprenda não só a respeitar, a valorizar, mais especialmente a se colocar como um defensor de uma postura antirracista na medida em que somos gestores públicos e de instituições”. Ilana sugeriu, inclusive, um desafio para que as três Casas e o Sindilegis lancem, de forma conjunta e nos moldes do “Como não ser um babaca”, um manual de linguagem antirracista.

O presidente do Sindilegis, Alison Souza, reforçou a posição do Sindilegis em continuar promovendo ações que tragam essa temática para discussão de forma permanente, e de como o “Como não ser um babaca” trouxe visibilidade às dificuldades enfrentadas pelas mulheres, em especial as mulheres negras: “De uns 15-20 anos para cá a gente tem conseguido ir além das palavras. Nós temos feito políticas afirmativas, conseguido aos poucos avançar nessa pauta; claro, não na velocidade que gostaríamos, mas acho que isso já é uma realidade em nosso país”.

Para Marcela de Oliveira Timóteo, servidora do TCU e responsável pelo Comitê Têcnico de Equidade, Diversidade e Inclusão do TCU, a temática vem se solidificando no setor público em Brasília: “A questão racial no Brasil não pode ser tratada como algo identitário, pequeno, para ser tratado em um ‘grupinho’, em uma caixinha dentro da instituição. A questão racial é estruturante no nosso país, ela é central. Então ela tem que ser tratada, sim, em todos os momentos”.

A diretora de comunicação e servidora do TCU, Elisa Bruno, explica que as discussões que giraram em torno do seminário não devem se restringir ao mês de novembro, mas sim ser uma pauta permanente de discussão durante todo o ano. “Ao dar voz e visibilidade às pessoas negras, o evento contribui para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária por meio de promoção de diversidade cultural; sensibilização da sociedade para as questões raciais; e fomento à arte e à cultura”.

Palestras enriquecedoras
Pela manhã, o renomado publicitário João Silva apresentou o selo ‘Racismo, aqui não!’, de sua autoria, que foi criado em 2009 em uma ação integrada de mobilização que se propõe a inibir práticas racistas no Brasil e no mundo, a partir de sua adoção e exposição em ambientes de trabalho, educação, manifestações culturais, esportivas e de lazer.

Em seguida, ocorreu a roda de conversa “Antirracismo e branquitude”, com a doutora Bárbara Carine, da Universidade Federal da Bahia. Em sua fala, ela explicou que as pessoas confundem e acham que o fim da “branquitude” é o fim das pessoas brancas, o que não corresponde à realidade. “A branquitude é sempre um lugar de vantagem estrutural do branco em sociedades estruturadas pelo racismo”, explica. Segundo ela, é preciso pensar “pessoas negras como capazes de participar dos processos produtivos das instituições e não apenas como chanceladoras de projetos brancocentrados”.

Cine debate
No período da tarde, ocorreu a exibição exclusiva do longa-metragem “Marte Um”, filme escolhido para representar o Brasil no Oscar 2023 e vencedor do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2023. Após a apresentação, foi realizado um debate conduzido pela professora, historiadora e cineasta Edileusa Penha de Souza.

A docente lançou luz para problemas como a ausência de atores negros no cinema brasileiro e para o reforço de estereótipos como a marginalização das pessoas negras. Durante a roda de conversa, o público presente discutiu elementos do filme como questões raciais, sociais e familiares, além de compartilharem experiências. Também no período vespertino foi realizada uma feira com expositores negros. O livro “Como não ser um babaca”, produzido pelo Sindilegis, foi uma das obras expostas durante a feira.

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